terça-feira, 27 de maio de 2014

Nota de Repúdio do COMPA ao Jornal Estado de Minas


Na recente edição de domingo do jornal Estado de Minas (25/04/2014), foi publicada no caderno de "Política" uma matéria torpe e dissimulada a respeito das manifestações e das organizações que, segundo eles, compõe o corpo de mobilização dos protestos. Inerente à sua história, fazendo jus à sua má índole que atravessa décadas de desinformação e mentiras em defesa de uma linha política elitista e antipopular muito clara, o Estado de Minas, por meio desta matéria ("Manifestações: conheça as caras e as vozes dos protestos em Belo Horizonte", Daniel Camargos), trouxe à edição avaliações e conclusões equivocadas - e portanto parciais - que, de modo geral, tentam reduzir as manifestações ao perfil partidário-eleitoreiro e difamar organizações e movimentos que eventualmente estariam envolvidos.

A matéria, semelhante às recentes publicações que dizem respeito às manifestações populares de 2014, busca atingir alguns objetivos que viemos percebendo de forma clara: tentar esvaziar os protestos; influenciar leituras negativas quanto às mobilizações; transmitir a ideia que atualmente as manifestações se resumem aos "de sempre" (partidos políticos/movimentos sociais vermelhos/esquerda); premeditar, de forma violenta e sensacionalista, conflitos campais entre "black bloc" e polícia, numa tentativa clara de recolher a população em suas casas a partir da indústria do medo, equiparando as forças desproporcionais dos black bloc e da polícia militar.

Não é de hoje que o jornal Estado de Minas tem tentado criminalizar e deslegitimar as manifestações que desde junho do ano passado acontecem com mais frequência na Região Metropolitana de Belo Horizonte e de grande parte do país. É de maneira ardilosa e totalmente irresponsável que o jornal vem atacando duramente quaisquer tipos de organizações políticas que com orgulho ocupam as ruas da cidade para lutarem de forma legítima contra as péssimas condições sociais que os trabalhadores e cidadãos enfrentam no dia-a-dia: a situação calamitosa da saúde que afeta todo o país, péssimas condições de transporte público e uma tarifa que está entre as mais caras do mundo, situação de moradia precária para trabalhadores de baixa renda, salários miseráveis e péssimas condições de trabalho para a maior parte da população, péssimo sistema de educação, além da Copa do Mundo que atropela todas essas necessidades unicamente pelos interesses econômicos e políticos de uma minoria.

Diante de tantos obstáculos encontrados por aqueles que se lançam à luta, ainda temos de enfrentar os ataques midiáticos grotescos e dissimuladores promovidos pelo jornal Estado de Minas, que de forma totalmente simplista e desinformada, difama e criminaliza os movimentos populares e organizações políticas que se encontram no contexto das atuais manifestações em BH. Ressaltamos que o direito de se manifestar está garantido a todo brasileiro pela constituição federal e que certos veículos midiáticos vêm operando uma política de ataque a esse direito conquistado pelo povo por meio de sua linha editorial presente em todas as bancas de jornais, nos horários nobres da TV e nos programas de rádio. Veículos que, a propósito, afirmam repudiar a ditadura militar que eles próprios já apoiaram, escondendo que criminalizaram aqueles que a combateram.

É com enorme indignação que por meio desta resposta tornamos público o nosso repúdio a esta tentativa de criminalizar o Coletivo Mineiro Popular Anarquista – Minas Gerais (COMPA/MG), se referindo a nós, de forma mentirosa, como defensores da violência nas manifestações, com o claro intuito de colocar a opinião pública contra nossa organização e a nossa ideologia, deslegitimando nossa luta e abrindo espaço para a criminalização. É de enorme irresponsabilidade um veículo de comunicação com o alcance que possui o jornal Estado de Minas fabricar conclusões a partir de um parágrafo isolado retirado de um dos panfletos distribuídos por nossa organização, nos expondo publicamente através de um jogo manipulador sem ao menos conhecer nossos princípios e nossa linha política. Fica claro o conteúdo político conservador e nada neutro por trás de seu editorial, que alardeia tantas mentiras sobre nós e a nossa ideologia, como vem fazendo em tantas páginas, mas que nada diz sobre os escândalos envolvendo o preço abusivo das passagens ou mesmo a repressão desproporcional que aflige aqueles que lutam ainda que pacificamente.

É óbvio que é cômodo para as mídias corporativas fazerem análises simplistas sobre o momento combativo que vivemos no Brasil desde junho de 2013 e sobre toda essa questão que envolve a violência nos protestos, pois acima de tudo vendem matérias e matérias sobre o assunto, mesmo que mentirosas. O nosso boletim de junho de 2013, o qual o Estado de Minas fez questão de recortar um parágrafo isolado e manipular, afirmando defendermos a violência, é muito mais reflexivo que propriamente auto-afirmativo. No boletim, o COMPA analisa o contexto das mobilizações que eclodiram nos protestos de junho, reflete quanto à verdadeira volúpia que está por trás da violência nas manifestações e discorre exatamente sobre como as mídias criminalizam pessoas e movimentos de forma generalizada, irresponsável e caluniosa.

Ao contrário do que escutamos ou lemos nos jornais, que diariamente simplificam as manifestações populares, usando termos como “vândalos” ou “arruaceiros”, entendemos que a violência é muito mais complexa do que como é tratada por esses veículos de comunicação, que insistem em generalizar todo o contexto de surgimento dos protestos, se baseando em estereótipos e levando um nível medíocre de reflexão para seus leitores e telespectadores. O que é ainda mais agravante principalmente se pensarmos que toda a revolta que foi protagonizada por parte daqueles que estavam nas ruas foi consequência da assombrosa ação da Polícia Militar de São Paulo que reprimiu brutalmente a primeira manifestação promovida pelo MPL de São Paulo, no dia 13 de junho de 2013. Foi exatamente a ação da PMESP que despertou o sentimento solidário entre os estados, resultando nos gigantescos protestos por todo o país. Importante ressaltar também que, neste primeiro momento, muitas mídias nacionais foram a favor do uso abusivo da força policial na manifestação – portanto defensoras da violência - e só se posicionaram de maneira mais estratégica quando o assunto tomou as redes sociais com os vídeos das ações repressivas da PM divulgados na internet, trazendo à tona a face violenta e ineficiente dos poderes de coerção utilizados para tentar calar as ruas.

O fato de entender que o que as grandes mídias tentam chamar de vandalismo não se compara com o estado de repressão e de criminalização da pobreza e dos movimentos sociais, não significa apoiar a violência nas manifestações, mas sim refletir sobre esse contexto social e procurar entender os verdadeiros fatores que lhes proporcionaram tal dimensão. Simplesmente exercemos o direito de pensarmos de forma crítica, algo totalmente diferente do conteúdo veiculado nos jornais, associando as legítimas manifestações como as que vêm ocorrendo em Belo Horizonte como obra de grupos violentos – o que não somos.

Nesse sentido, é curioso um jornal como o Estado de Minas, órgão que compõe o Diário dos Associados (DA), nos referir cinicamente como adeptos e "a favor da violência". Foi na capa deste mesmo jornal que saiu uma imagem com um policial completamente armado de um lado e um black bloc do outro, fazendo uma alusão explicitamente violenta aos protestos deste ano. É na TV Alterosa - que também é parte do DA - que o discurso de ódio de "redução da maioridade penal" e "pena de morte" compõe a pauta do dia, todos os dias, permeando leituras violentas, simplistas e revanchistas. Enquanto programas e emissoras da televisão incentivam o linchamento, os "justiceiros", as ações arbitrárias, higienistas e racistas dos PMs nas periferias do Brasil - como o SBT, parceiro do Diário dos Associados -, nós, que fazemos justamente essa reflexão e ponderamos a violência do complô mídia-estado-empresários x povo pobre explorado e criminalizado, é que somos taxados de violentos nesses mesmos veículos da mídia. Nesta mesma linha violenta e odiosa, o Estado de Minas tem tradição de criminalizar e bestializar as justas greves que se estabelecem em nosso estado, tanto antigamente quanto hoje em dia, como a atual greve que foi deflagrada pela imensa gama de categorias do funcionalismo público da cidade. Os servidores que estão acampados há dias na porta da prefeitura são trabalhadoras e trabalhadores fartos da intransigência da prefeitura, que cruzaram os braços de forma legal e legítima. Além da falta de diálogo da prefeitura, são ainda diariamente atacados pelos veículos corporativistas de comunicação como o Estado de Minas, que blinda a prefeitura das críticas postas pelos servidores e abre caminho para a criminalização do movimento grevista, tanto na opinião pública, quanto por sua influência no judiciário.

O que é claro e evidente é que tanto as mídias corporativas quanto a justiça brasileira operam com a política de “um peso, duas medidas” no que diz respeito à violência e punição no Brasil. Para os cidadãos que vão as ruas, o mais subjetivo detalhe se torna prova de crime contundente, mesmo que manipulado ou forjado, sendo esses julgados com enorme urgência pelo judiciário, enquanto para os policiais que agridem no asfalto e assassinam nas favelas e para os ladrões corruptos e prevaricadores que fazem parte dos setores empresário-governamentais, a justiça é lenta e ineficaz.  Assim são garantidos os privilégios de uma pequena elite burguesa que vive às custas da exploração eterna dos trabalhadores, trabalhadores que são severamente punidos nas ruas quando tentam reivindicar melhores condições de vida.

É nesse contexto que também lamentamos as várias prisões arbitrárias que vêm acontecendo em todo o país com o intuito de tentar garantir o sucesso do evento da Copa do Mundo que se aproxima. São inúmeros os presos políticos em vários estados sem terem cometido crimes previsto em lei ou ter sequer acusações relevantes a não ser fazerem parte de movimentos políticos e populares, ou seja, prisões puramente políticas e consequentemente criminosas e inaceitáveis. Prisões políticas que são legitimadas pelos principais veículos de comunicação, assim como o jornal Estado de Minas, que criminaliza os movimentos políticos e populares ajudando os verdadeiros criminosos a garantirem seus privilégios.

Somos anarquistas, e temos convicção disso. Defendemos nossa bandeira e empunhamos nossa ideologia no dia-a-dia de nossas lutas. Somos anarquistas, organizados e revolucionários. Não cremos que serão apenas protestos combativos que mudarão estruturalmente as coisas; por isso nos organizamos e militamos no cotidiano das lutas populares. Mas também reivindicamos os protestos: construímos, defendemos e compomos. Violento é o Estado, que mata; a mídia, que sentencia, acoberta e mente. O movimento é organizado, resiste e sonha. Por isso luta, por isso não recua, por isso não se intimida.

PROTESTAR NÃO É CRIME! CONTRA À CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS POPULARES E PELA LIBERTAÇÃO IMEDIATA DOS PRESOS POLÍTICOS!

NÃO SE INTIMIDAR, NÃO SE DESMOBILIZAR! RODEAR DE SOLIDARIEDADE @S QUE LUTAM!

COMPA  - Coletivo Mineiro Popular Anarquista

Captura da tela da matéria on-line. Disponível em: http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2014/05/25/interna_politica,532337/manifestacoes-conheca-as-caras-e-as-vozes-dos-protestos-em-belo-horizonte.shtml. Acesso em: 27/05/2014, 17:42.

sábado, 17 de maio de 2014

Seminário Bakunin: Crítica Social e Estratégia Revolucionária


Em ocasião do 200º aniversário de Mikhail Bakunin (30 de maio), o COMPA convida para o Seminário Bakunin: Crítica Social e Estratégia Revolucionária, que será realizado no dia 31 de maio em Belo Horizonte.

A mesa será composta pelo companheiro Felipe Corrêa, militante da OASL-CAB (Organização Anarquista Socialismo Libertário - Coordenação Anarquista Brasileira) e integrante do ITHA (Instituto de Teoria e História Anarquista), e será dividia em três eixos:

- Vida e Obra (trajetória de lutas e contribuição teórica)
- Crítica Social (análise do capitalismo, do Estado e das classes sociais)
- Estratégia Revolucionária (Dualismo organizacional, linha política e de massas, processo revolucionário e sociedade futura)

O Seminário acontecerá das 14h às 20h, no Espaço Fôlego Cultural, que fica na Rua da Bahia 1176, Centro, no quarteirão do Ed. Maletta. A alimentação será garantida a preços populares por cooperativas veganas companheiras. O cultural comes e bebes será às 20:30, no Bar do Olympio, 2º andar do Ed. Maletta.

A entrada é franca, mas contribuições voluntárias são bem-vindas. Lotação para 50 pessoas.

Mais info: compabh@riseup.net • www.coletivocompa.org

Arriba lxs que luchan!
Viva os 200 anos de Bakunin!
Viva a Anarquia!

quinta-feira, 15 de maio de 2014

[URUGUAI] Comunicado público da Coluna Cerro-Teja a respeito do último 1º de Maio em Montevidéu


Retirado de: http://coletivoanarquistalutadeclasse.wordpress.com/2014/05/12/uruguai-comunicado-publico-da-coluna-cerro-teja-a-respeito-do-ultimo-1o-de-maio-em-montevideu/

Difundimos a tradução do comunicado público da Coluna Cerro-Teja a respeito do último 1º de Maio em Montevidéu, ocasião que a Coluna queimou um boneco de policial em protesto contra a repressão nos bairros e o projeto de lei de redução da maioridade penal. Em função da ação, companheiros estão sendo intimados a depor judicialmente.

Toda solidariedade a Coluna Cerro-Teja.

Contra a repressão policial nos bairros e a redução da maioridade penal, aqui, no Uruguai e em qualquer canto do mundo!
Não ta morto quem peleia!

Federação Anarquista Gaúcha – FAG

Montevideo, 3 de maio de 2014.


À Opinião Pública:

Por ocasião da queima de bonecos no 1º de Maio nossa Coluna tem sido mencionada e atacada em meios de comunicação e em declarações de representantes do governo. Nos vemos na obrigação de responder e esclarecer algumas questões.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

SEMINÁRIO BAKUNIN: Crítica Social e Estratégia Revolucionária - pré-divulgação


Compas!

Lançada a pré-divulgação do Seminário Bakunin: Crítica Social e Estratégia Revolucionária, que será realizado no dia 31, sábado, em Belo Horizonte / MG. Para aguçar a curiosidade, o seminário contará com ricos debates em torno de três temas sobre Bakunin, que neste mês de Maio (dia 30) completa 200 anos, mais vendas e distribuição de livros e materiais anarquistas, comidas veganas, presença de companheir@s de outros estados etc.

Seminário anarquista na capital mineira: todas e todos convidad@s!

Em breve mais info!

sexta-feira, 2 de maio de 2014

[CAAF/VN] A construção do Anarquismo na Bahia

Retirado de: http://www.resistencialibertaria.org/index.php?id=131:a-construcao-do-anarquismo-na-bahia


DECLARAÇÃO DO Iº ENCONTRO ANARQUISTA ESPECIFISTA DA BAHIA

As jornadas de junho demonstraram a insatisfação popular com a democracia representativa e a falência das instituições do estado burocrático, representada pela política dos partidos tradicionais, no momento em que as demandas populares não foram atendidas. O Estado mostrou sua capacidade de assegurar os interesses do Capital, respondendo os anseios populares com truculenta repressão. A Bahia vivenciou ricos momentos de ação popular autônoma, com manifestações em diversas cidades do estado. Para o anarquismo, esse processo abriu novas possibilidades do ‘fazer’ político junto com o povo, fomentando novos valores de democracia direta e do Poder Popular. Foi diante dessa conjuntura que, nós anarquistas, lutamos e fortalecemos o protagonismo das ruas.