sábado, 1 de novembro de 2014

Solidariedade ao povo mexicano na luta pel@s 43 estudantes sumid@s em 26 de setembro



Há mais de um mês estão desaparecid@s 43 estudantes de uma Escola Normal Rural, situada na cidade de Ayotzinapa, por parte de uma ação conjunta entre a Polícia mexicana e um cartel de drogas da região. O ataque das forças policiais e do cartel foi realizado em 26 de setembro, após uma atividade de estudantes que tinha como objetivo levantar recursos para a participação das manifestações na capital do país, Cidade do México, em memória ao aniversário do Massacre de Tlatelolco (quando, em 1968, foram assassinados quase 300 estudantes pela polícia após protestos populares)¹. Desde então, @s estudantes estão sumid@s e o governo mexicano tem sido pouco claro e conclusivo em suas declarações a respeito do sumiço e do que realmente ocorreu.

As escolas normais nasceram como fruto da Revolução Mexicana de 1914-1919. A partir dos anos 1920, a educação mexicana assumiu um caráter socialista/libertário que proporcionou nos anos seguintes aos 30, apesar de sua institucionalização nas décadas seguintes, grande participação popular envolvendo pais, alunos, professores e interessados na construção de um modelo educacional que proporcionasse a unificação da educação e da comunidade. Agregando aos métodos educacionais a tradição indígena que enraíza a cultura local, os conselhos de anciãos, de terras comunais e de autogoverno, as escolas normais potencializavam a luta local contra a dominação de reformas neoliberais do estado mexicano. Apesar de diversas tentativas de desarticulação das escolas normais, das 29 unidades da rede, 13 ainda sobrevivem de maneira horizontal e autogerida, dando continuidade às suas propostas originais, sendo a escola Normal Rural Raúl Isidro Burgos, em Ayotzinapa no estado de Guerrero, uma destas experiências; especificamente, onde se formavam os 43 estudantes sumidos pelo estado mexicano.
Fortes manifestações com milhares de pessoas se deflagaram por todo o país, na Cidade do México (capital do país), em Acapulco (capital do estado) e em diversas outras cidades mexicanas. Prefeituras e demais prédios e instalações do governo estão sendo ocupados ou incendiados durante os protestos, que se desdobram em grandes confrontos contra a repressão policial que segue. A participação de professores nos protestos tem sido decisiva: a Coordenação Estadual dos Trabalhadores da Educação em Guerrero (CETEG) tem se mobilizado nas ações mais radicais que estão em curso nas tantas cidades do estado. Na quarta-feira, 29 de outubro, dezenas de professores atacaram a residência oficial do governador do Estado, Rogelio Ortega, forçando-o a renunciar o cargo. O EZLN (Exército Zapatista de Liberação Nacional) também se integrou à mobilização de resistência, que já se faz global.

Diante desse cenário, também somamos, desde Minas Gerais, Brasil, à mobilização internacional de solidariedade a est@s estudant@s, seus familiares e ao povo mexicano, que exige o esclarecimento do ocorrido, a imediata apresentação com vida destes 43 estudantes sumidos e à responsabilização da polícia, do governo de Guerrero e do governo mexicano, que submeteram o povo mexicano a tal situação tão dolorosa e ao mesmo tempo inaceitável. Manifestamos publicamente, portanto, nosso repúdio a este ataque covarde e cruel por parte do conluio entre o governo mexicano e outros agrupamentos paramilitares.

É no povo mexicano e em sua história de luta que o nosso anarquismo tem uma de suas mais expressivas influências. O movimento anarquista operário e camponês desde o século XIX, os companheiros irmãos Ricardo Flores Magón e Henrique Magón, o periódico "Regeneración", Emiliano Zapata, as mulheres organizadas no destacamento "Las soldaderas", a grande combatente revolucionária Margarita Neri, @s Zapatistas contemporâneos organizad@s no EZLN... são várias as expressões, os traços e as fortíssimas contribuições ao movimento revolucionário mundial, sobretudo à nossa corrente do anarquismo, que o povo mexicano ofereceu e ainda oferece. Nossa identidade latinoamericana reforça ainda mais esse laço que por nós é de muita relevância e expressão. Não nos calaremos diante de ataques a irmãs e irmãos de classe, de América Latina, de luta revolucionária, por parte de nossos mais repugnantes inimigos; Não Passarão! 

Os governos e os assassinos do povo Não Passarão!
Somos tod@s estudantes de Ayotzinapa! Somos tod@s estudantes de Tlatelolco!
Solidariedade é mais que palavra escrita!


Gigantes manifestações na Cidade do México, capital do país

Prédios públicos, como a prefeitura de Iguala, são atacados e incendiados

Professores enfrentam a repressão policial
Notas:

¹ Durante a tarde e a noite de 2 de Outubro de 1968 a Polícia mexicana executou quase 300 estudantes na Praça das Três Culturas, no bairro de Tlatelolco na Cidade do México, após manifestações estudantis que duraram vários meses na capital mexicana, eco das manifestações e revoltas estudantis ocorridas em várias cidades do mundo em 1968. Os estudantes mexicanos pretendiam explorar a atenção do mundo, focada na Cidade do México por ocasião dos Jogos Olímpicos de 1968, assim como ocorreu no Brasil, durante a Copa das Confederações em junho de 2013 e a Copa do Mundo, em junho de 2014.

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