quarta-feira, 21 de março de 2012

21 de março e moção de apoio à Comunidade Quilombola Rio dos Macacos


No dia internacional contra a discriminação racial, 21 de março, o Coletivo Mineiro Popular Anarquista presta solidariedade à todos negros, asiáticos, indígenas ou quaisquer etinias ou povos que já sofreram ou ainda sofrem atentados morais e físicos, decorrentes da moral capitalista que herda, estabelece, institui e sustenta o preconceito, a homofobia, o machismo, o etnocídio e suas demais variações de ódio e segregação racial e social.

Fazendo jus à ocasião, lançamos também uma moção de apoio à comunidade Quilombo Rio dos Macacos, situada na Bahia, que luta bravamente contra grandes inimigos - como a Marinha Militar - para fazerem valer sua cultura, sua moradia, sua dignidade e sobretudo sua rica história de resistência quilombola.


MOÇÃO DE APOIO À COMUNIDADE QUILOMBOLA RIO DOS MACACOS


Como já atenta a Comunidade Quilombola Rio dos Macacos, na primeira frase de seu manifesto, "A Marinha como inimiga histórica da população negra do Brasil" [1], nós reafirmamos a principal função da instituição militar no Brasil: a garantia das regalias dos detentores do poder - latifundiários, empresários, coronéis dos campos e das cidades - e como consequência o controle social, desencadeando na intimidação e repressão de qualquer agitação de caráter popular.

Também realçado no manifesto do Quilombo, a criação dos órgãos militares no Brasil está intimamente ligada à garantia das articulações escravagistas e etnocídas daquela época. O exercício de tal função resultou, no desenrolar da terrível trajetória deste país, num avalanche histórico de torturas, assassinatos, perseguições, massacres etc. que se justificaram - quando fora necessário justificar - numa mentira de "proteção nacional" - o que coloca, então, o próprio povo brasileiro como inimigo em potencial da nação, dando assim uma eventual legitimidade para o arsenal militar voltar contra o povo.

Portanto, reafirmamos também que o verdadeiro e grande inimigo do povo brasileiro é o próprio órgão militar. Como consequência, compreendemos que o Estado, em suas mais naturais representações, também figura como um inimigo notório do povo, pois é dele que emana a articulação do poderio repressivo militar e a garantia das explorações capitalistas que nos ferem a dignidade humana.

Além dos impasses no campo repressivo social-político, físico e moral, existe o fator econômico que coordena mais uma série de ataques contra o povo e envolve situações iguais à da Comunidade Quilombola Rio dos Macacos. O sistema econômico capitalista é, em sua gênese, germinado num solo demasiadamente fértil ao estabelecimento da desigualdade social. Criado, mantido e desenvolvido em defesa da propriedade, do capital e do lucro, quaisquer relações de poder que nele forem desenvolvidas estão fadadas à luta insaciável pelo acúmulo de riqueza e manutenção dos poderes já predominantes.

O capitalismo, então, além de tradicionalmente explorar o trabalho, mais expressivamente nos dias atuais, orienta quaisquer decisões políticas e sociais nos tramites mais elevados do oficialato estatal. Como produto efetivado dessa política econômica promíscua, há pouquíssimo tempo vimos o massacre de Pinheirinho [2] executado pela Polícia Militar de São Paulo (honrando tua tradição militar), a mando do governador Geraldo Alckimin (do partido nazista PSDB) e da juíza Márcia Loureiro (6 Vara Cível de São José dos Campos). Vemos também as incansáveis e honrosas lutas das comunidades Zilah Spósito Helna Greco [3], Dandara, Irmãs Dorothy e Camilo Torres, todas aqui em Belo Horizonte, a favor do direito fundamental de moradia e contra os interesses da especulação imobiliária, um dos mais trágicos braços do capitalismo no Brasil nesse período de "preparação" para a Copa 2014.

A partir dessas considerações, é natural o nosso mais fervoroso apoio à Comunidade Quilombola Rio dos Macacos, que atravessa séculos de existência e herda diretamente da cultura combativa quilombola. São dezenas de anos de muita cultura, solidariedade e vida que estão ameaçadas por uma instituição que há poucas décadas invadiu a região da comunidade. A força popular deve ser persistente e combativa para resistir às garras da dominação; por isso saudamos as mulheres, os homens, os idosos e as crianças do Quilombo Rio dos Macacos que constróem esse poder popular. É na marra, na luta, na rua, na garra, na solidariedade de classe e no apoio mútuo que construímos este poder popular, nosso único viés de resistência à dominação social e de mudança radical nas estruturas sociais.

Exigimos, também, que o Governo Federal tenha uma postura rígida nesse caso e não se posicione somente em notas, cartas ou pequenas considerações sobre o fato. Que tome atitude e barre de imediato as especulações de mais um assalto ao povo brasileiro.


ABAIXO A DISCRIMINAÇÃO RACIAL E SOCIAL!
ABAIXO O CAPITALISMO QUE DÁ SUSTENTO AO PRECONCEITO E À DISCRIMINAÇÃO!
VIVA QUILOMBO RIO DOS MACACOS!
ABAIXO A INSTITUIÇÃO MILITAR!
QUE CRESÇA O PODER POPULAR!



[2] Ver a nota de apoio do FAO - Fórum do Anarquismo Organizado à comunidade Pinheirinho: http://www.socialismolibertario.com.br/2012/01/toda-solidariedade-as-familias-de.html

[3] Ver o manifesto de apoio à comunidade Zilah Spósito Helena Greco: http://www.socialismolibertario.com.br/2012/03/manifesto-todo-apoio-comunidade-zilah.html



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