Coletivo Mineiro Popular Anarquista
Belo Horizonte/MG, 19 de março de 2012
Na manhã de 13 de março de 2012, a Ocupação Zilah Spósito-Helena Greco, localizada no bairro Zilah Spósito, foi vítima de mais uma ação intimidatória da prefeitura de Belo Horizonte em parceria com o Governo do Estado e à serviço da especulação imobiliária.
Os moradores acordaram com policiais da tropa
de choque da Polícia Militar e guardas municipais sitiando a comunidade,
enquanto helicópteros da Polícia Militar sobrevoavam sem parar as moradias,
buscando intimidar e pressionar psicologicamente as 120 famílias sem-teto que
ali habitam. Pouco mais tarde, foi expedido pelo Juiz Alyrio Ramos, da 3ª Vara
da Fazenda Municipal o mandato de
despejo, no qual consta a data de 19/03 para a reintegração de posse.
A guerra contra os pobres não é novidade na
capital mineira. Em 20 de setembro de 2010, a ocupação vertical Torres Gêmeas,
do bairro Santa Tereza, que consistia em dois prédios abandonados de 17
andares, sofreu um incêndio em um de seus prédios. A Polícia Militar, a mando
do governador Antonio Anastasia (PSDB), estrategicamente cercou o edifício
assim que os moradores saíram para proteger-se do incêndio e os impediu de
retornarem, mesmo quando o fogo foi apagado. O despejo surpresa foi assim
efetivado, e a PM não permitiu sequer que os moradores retornassem ao edifício
para retirar seus pertences dos apartamentos, mesmo quando o fogo foi apagado. As
causas do incêndio não foram identificadas, mas especula-se que foi criminoso,
planejado especialmente para o desalojo. A ocupação ficava de frente a estação
de metrô Santa Efigênia e ao então recém-construído Boulevard Shopping, área de
forte especulação imobiliária, proveniente das obras da Copa do Mundo e do
acelerado processo de privatização, higienização e militarização da cidade. Não
foi oferecida nenhuma alternativa de moradia aos ocupantes da torre desalojada,
que jamais puderam retornar às suas moradias ou ter acesso aos bens que lá
deixaram. Em 3 de setembro de 2010, foi publicado no Jornal Hoje em Dia que
será construído um hotel no local da torre desalojada. O Jornal também lançou
nota de que a Prefeitura de Belo Horizonte informou que “algumas casas da
região serão desapropriadas para a realização de obras para melhorar o acesso
ao hotel”.
Também durante o ano de 2010 vimos as
constantes e eminentes ameaças de despejo na Ocupação Dandara, localizada no bairro
Céu Azul (região de Venda Nova). Os mandatos de despejo foram expedidos
diversas vezes, e revogados por conta da luta e das mobilizações populares em
solidariedade à comunidade. A ostensiva pressão psicológica da polícia militar
e os mandatos de despejo continuaram em 2011, assim como a luta pela moradia, a
solidariedade dos movimentos sociais e a resistência dos moradores. A
comunidade Dandara (que recebe o nome em homenagem a companheira de Zumbi dos
Palmares) foi ocupada em abril de 2009 por cerca de 200 famílias, contando hoje
com mais de 900. A ocupação Dandara resistiu até aqui, mas todos têm
consciência de que a especulação imobiliária e a guerra aos pobres não acabou
em nossa cidade, sendo o despejo da comunidade um risco real na medida em que o
projeto de higienização, privatização e militarização é acelerado.
Em 2011 vimos um despejo parcial da
comunidade Zilah Spósito-Helena Greco (que na época chamava-se apenas Zilah
Spósito), realizado sem mandato judicial, no qual fiscais, guardas municipais e
Policiais Militares do bairro Zilah Spósito, covardemente usaram gás de
pimenta, cassetetes e carros de demolição para retirar de suas casas 39
famílias, enquanto destruíam 24 casas de alvenaria, barracos de lona e casas em
início de construção. A alegação oficial da prefeitura para a brutalidade
cometida é a de que a ocupação existia em área de risco de desabamento, o que é
uma inescrupulosa mentira, pois os moradores fizeram um estudo prévio do local
antes de ocupa-lo, tomando o cuidado de manter 30 metros de distância do
córrego que se localiza em área de preservação permanente (APP), o que segundo
as normas de segurança é aceitável. Sob a controvérsia justificativa de
preservar a vida dos moradores, a PBH colocou em risco a vida de 39 famílias,
que além do terror psicológico de serem retiradas de suas casas, sofreram com a
chuva, a fome e o frio provocados pela falta de abrigo. Depois deste triste
episódio, a comunidade conseguiu aumentar sua rede de apoio, e reconstruir as
casas demolidas.
Estes episódios aqui relatados somam-se à
outros tantos capítulos da desumana guerra contra os pobres protagonizada em
Belo Horizonte, que se repetem em todo o Brasil, como no recente despejo de uma
das maiores ocupações urbanas da América Latina, o Pinheirinho, localizado em
São José dos Campos (SP), e tantas outras ocupações rurais e urbanas que
cotidianamente sofrem com a especulação imobiliária, o latifúndio, a
truculência dos governos e polícias, e os despejos forçados.
A ocupação Zilah Spósito – Helena Greco (que
tem o seu segundo nome em homenagem à Dona Helena Greco, militante mineira de
extrema esquerda que dedicou a vida à luta pelos direitos humanos e ao combate
à opressão, e faleceu em 27 de julho de 2011),
nasce em 2011 para alimentar as esperanças de que deve haver resistência onde
há opressão, e de que enquanto a moradia for um privilégio de poucos, a
ocupação se faz um direito! A Zilah Spósito – Helena Greco nasce num contexto
onde a moradia só se conquista lutando! A Zilah Spósito – Helena Greco nasce
para lutar. Pelo direito à vida, que é inseparável do direito à moradia!
ZILAH SPÓSITO – HELENA GRECO RESISTE!
ONDE HOUVER OPRESSÃO, HAVERÁ RESISTÊNCIA!
OCUPAR, CRIAR, PODER POPULAR!
ONDE HOUVER OPRESSÃO, HAVERÁ RESISTÊNCIA!
OCUPAR, CRIAR, PODER POPULAR!
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