quinta-feira, 14 de agosto de 2014

[FTA] ESTADO ORDENA AÇÃO DE DESPEJO A 8.000 FAMÍLIAS: MASSACRE ANUNCIADO



8 MIL FAMÍLIAS SOFREM AMEAÇA DESUMANA DE TEREM SUAS VIDAS ARRUINADAS COM O ANÚNCIO DE UMA MEGAOPERAÇÃO POLICIAL A SER REALIZADA AINDA NESTA SEMANA NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE (RMBH).

Belo Horizonte, 12/08/2014, FTA – Frente Terra e Autonomia

8 mil famílias sofrem ameaça desumana de terem suas vidas arruinadas com o anúncio de uma megaoperação policial a ser realizada ainda nesta semana na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Trata-se de 30 mil pessoas que moram nas ocupações urbanas da mata do Isidoro, a saber: Ocupação Vitória (4.500 famílias), Ocupação Esperança (2 mil famílias) e Ocupação Rosa Leão (1.500 famílias). O desastroso e alarmante déficit habitacional de 70 mil moradias em Belo Horizonte incumbe milhares de pobres à tal situação gravíssima, indígena e inaceitável.

A Região da Mata do Isidoro, mais conhecida como Granja Werneck, situada no norte da RMBH, é alvo de ambições das mais variadas origens por parte de empreiteiras e grandes empresários. Especula-se que há naquela região, que tem 10 milhões de metros quadrados, potencial suficiente para dar cabo ao projeto urbanístico mais caro do Brasil, podendo levantar uma quantia em torno de 15 bilhões de reais¹. Fato é que essa imensa área há muito abandonada é alvo de um punhado de ricos ambiciosos que estão intimamente alinhados com o milionário prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda.

Dada a situação, que coloca de um lado da balança o direito fundamental de moradia de milhares de famílias trabalhadoras e do outro lado a garantia do lucro e das regalias de alguns afortunados, os poderes do nosso Estado Democrático de Direito (prefeitura, legislativo e judiciário) sem hesitar e sem medir esforços batem o martelo a favor dos seus iguais: os ricos. Nessa simples decisão o Estado anuncia uma tragédia talvez sem precedentes em Minas Gerais, devido à gravidade que existe em realizar uma operação violenta contra milhares de pessoas que não querem nada mais do que garantir seu teto (e que, muitas delas, com toda a legitimidade, resistirão a qualquer custo dentro em defesa de suas casas, seus pertences e suas famílias). O Estado parece não ter a capacidade de medir o perigo e o massacre anunciado que ele pode operar nesta próxima semana, em defesa dos especuladores, empreiteiros e grandes empresários. Mas ele tem e compreende o que está fazendo; e o faz com convicção. São em torno de 1.500 militares destacados para a operação violenta de despejo, isso segundo a PM.

Nas ocupações do Isidoro são 8 mil moradias construídas há pouco mais de um ano. Não há projeto social habitacional que tenha construído 10% desse montante para as famílias que tenham renda de 0 a 3 salários mínimos na RMBH (Minha Casa Minha Vida, a propósito, construiu pouco mais de mil unidades habitacionais²). Somando essas 8 mil moradias às outras milhares que foram construídas por outras ocupações urbanas da RMBH, temos mais de 25 mil famílias em ocupações (a Ocupação William Rosa em Contagem conta com 4 mil famílias; a Ocupação Guarani-Kaiowá, também em Contagem, conta com 150 famílias; temos mais 350 famílias na Ocupação Eliana Silva e mais 1.000 na Ocupação Dandara – destas, a mais antiga, com 5 anos). Tal número refere-se, importante saber, apenas às ocupações que de alguma forma se organizam com movimentos sociais, pois existem mais tantas outras pela RMBH.

Portanto, podemos perceber de forma clara a importância e a força do movimento popular organizado para tratar de assuntos fundamentais que de algum modo enfrentam empecilhos por parte de ganâncias e articulações lucrativas dos ricos que gerem o Estado e o capital, como é o caso da luta por moradia. Belo Horizonte (a RMBH) e outras tantas cidades brasileiras se orientam por políticas desumanas e segregatórias no que tange a distribuição dos espaços, terrenos e moradias já estabelecidas: é caro, inacessível, está especulado e inabitável. O que a situação impõe ao pobre é se organizar e ocupar os diversos terrenos, prédios, espaços vazios que estão às moscas da especulação imobiliária, por meio da ação-direta e do combate aos interesses do capital, resistindo e construindo suas casas e suas comunidades. Esse ganho, portanto, é merecido ser ressaltado: a ação-direta popular garantiu milhares de casas ao povo pobre brasileiro, enquanto o Estado segue na via oposta, ora despejando, ora não construindo suficientes moradias nos seus projetos sociais demagogos e enganadores.

Vale salientar também o quão a luta por moradia na capital deu gás e mais força para toda a luta popular da cidade. Nos recordamos a campanha internacional que foi realizada para Dandara, em 2011, o que deu mais força à ocupação na luta contra o despejo, que se fazia iminente, e que igualmente construiu laços entre lutas que até então estavam dispersas na cidade. Foi depois da pauta do dia ser composta pela luta por moradia, pela solidariedade com a Dandara (e no mesmo ano com a Zilah Spósito, também no Isidoro, mas que não sofre ameaça iminente), que pudemos notar um avanço nos espaços de esquerda da cidade que se propõe à luta.

Esses entre outros fatores nos chamam ao dever de não medirmos esforços em nos somarmos à mobilização de solidariedade às ocupações do Isidoro, denunciando o crime que está sendo cometido em nosso estado e dando o suporte físico e político necessário para a defesa das 8 mil moradias construídas pelo povo. Bilhetes e comunicados estão sendo distribuídos pela PM para os moradores das ocupações. O Estado afirma que a operação da PM está baseada no despejo de 2.500 famílias, o que é, no mínimo, absurdo. A PM convocou reuniões com as lideranças da ocupação para reafirmar a realização do despejo, e destacar que se for necessário o uso da força, eles utilizarão. O Estado está, no fim das contas, ameaçando o povo para que deixem suas casas e vão para onde quiserem ir, porque não se preocupou em ao menos garantir um destino às pessoas que perderão suas casas.

É um momento extremamente delicado que precisa do apoio de todas e todos, de forma geral e irrestrita. Corremos o risco de presenciarmos um banho de sangue. É disso que o Estado é capaz, não nos enganemos. É em função dos ricos e capitalistas que o Estado trabalha, custe o que custar: moradias, ameaças, torturas, vidas.

Pela solidariedade à Resistência do Isidoro! #ResisteIsidoro! Estamos juntas e juntos com vocês.

¹ Dados de vídeo do portal bhaz.com.br de título “Mata do Isidoro no BH que você não conhece”.
² De acordo com o Frei Gilvander, até novembro de 2013, o número era de 1.427.

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