quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Boletim do COMPA Nº 5: Nossas urgências não cabem nas urnas, a vida só muda com resistência e luta!

Publicado o quinto número do Boletim do COMPA, escrito para abordar a questão das eleições, suas ilusões e a necessidade de construirmos o nosso programa de necessidades e urgências - moradia, saúde, transporte, trabalho, terra, direitos - por nossas próprias mãos, com ação-direta, autonomia, independência política e solidariedade. Criar Poder Popular para transformar a sociedade de acordo com as nossas pautas e as nossas urgências, que jamais serão pautadas pelos de cima, em eleições ou fora delas.

Segue abaixo o boletim na íntegra, impresso e distribuído em Belo Horizonte e Região Metropolitana, e neste link você pode fazer o download do PDF.




BOLETIM DO COMPA - Coletivo Mineiro Popular Anarquista
Ano II - Nº 5 – Setembro de 2014
www.coletivocompa.org • compabh[ arrob@ ]riseup.net

NOSSAS URGÊNCIAS NÃO CABEM NAS URNAS, A VIDA SÓ MUDA COM RESISTÊNCIA E LUTA!

Olá colega, como vai? Imaginamos que ainda hoje você foi alvo de várias propagandas políticas na rua ou na TV. É tempo de eleição e por isso diversos partidos políticos estão disputando o seu voto e prometendo mundos e fundos para chegarem ou se manterem no poder. Pois bem, nós também estamos fazendo um tipo de campanha política, mas diferente dos políticos profissionais, porque não esperamos enriquecer e nem ficarmos poderosos às custas dos impostos de ninguém. Queremos apenas conversar um pouco com você. Será que podemos?

Nessa época, muito dinheiro é gasto em campanhas políticas milionárias nas ruas e na TV. Muitas vezes essas campanhas são financiadas por empresas que esperam conseguir lucrar com obras públicas superfaturadas, desviando muito dinheiro e nos entregando serviços bastante duvidosos. Você se lembra do viaduto da Pedro I que caiu? No fim das contas, o que resta ao povo é escolher com enorme dificuldade aquele candidato que parece ser o menos corrupto. De forma bastante falsa chamam isso de democracia... mas será que é mesmo?

É interessante notar que, além de milhares de panfletos que eles distribuem, também acabamos assistindo várias propagandas na TV, dizendo que agora é o momento certo do povo participar da democracia, colocando em nossa cabeça que se votarmos direito poderemos mudar as injustiças, humilhações e violências que sofremos todo dia; colocam em nossa cabeça que acabaremos com a corrupção com o simples ato de votar no candidato menos pior. O que elas não falam é quantas eleições precisarão ser feitas para que isso aconteça.

Depois de quase 30 anos podendo votar diretamente nos candidatos, pouca coisa realmente mudou. É fato que da última década pra cá muitos de nós conseguem comprar coisas que antes não conseguiam: telefone celular, uma roupa melhor, televisão, um carro parcelado, uma faculdade financiada... Mas, se olharmos bem, na verdade estamos nos afundando em dívidas eternas no cartão de crédito, com juros e chantagens das grandes empresas e dos bancos, que estão aliados ao governo federal e lucram bilhões por ano. E tem mais: somente nos últimos meses, centenas de jovens pobres foram assassinados pela polícia brasileira, a que mais mata no mundo. Trabalhadores como os metroviários grevistas de São Paulo foram demitidos e perseguidos por fazerem greve. Centenas de índios e trabalhadores rurais sem-terra foram assassinados a mando de fazendeiros riquíssimos. Manifestantes foram presos e processados por crimes que não cometeram. Tudo isso com o nome de democracia, e sobre um governo que diz ser dos trabalhadores. Os governos mudam, mas as injustiças permanecem!

E quanto a você, no seu dia a dia, como você acha que anda a saúde na sua cidade? E o transporte público sempre caro e de péssima qualidade? E a educação pública para os seus filhos? E a qualidade do seu emprego, local onde você passa todo o seu dia?

Dizem que temos um governo democrático, que “o poder emana do povo”, mas ainda enfrentamos os mesmos obstáculos que sempre marcaram a nossa história: uma profunda desigualdade entre um grupo pequeno de ricos e o resto da sociedade, que são milhões de pobres, trabalhadores e trabalhadoras, negros, negras, mulheres, desempregados… que somos nós. Desigualdade mantida por uma classe política sempre a favor daqueles ricos e contra o nosso povo. Se na época da ditadura militar, marcada pela tortura e assassinato daqueles que lutaram contra um governo corrupto e violento, nós não podíamos escolher nossos representantes, hoje vários problemas antigos ainda existem e outros até pioraram, mesmo existindo a “democracia”, onde podemos votar e até mesmo nos candidatar (o “estado democrático de direito”). 

Vejamos: o que dizer do direito à moradia num país em que a maioria das pessoas sofre com aluguéis cada vez mais caros? O direito à moradia não existe onde temos que escolher entre comer bem ou ter uma casa própria, ou mesmo apenas um aluguel digno. O que dizer sobre a feira cara que temos que fazer quando dá, porque imensas terras brasileiras estão a serviço da produção de soja para o lucro de uma minoria latifundiária milionária, que fatura vendendo o produto da nossa terra? O que dizer das horas que perdemos em pé em ônibus lotados, quando poderíamos estar com nossa família, só porque as empresas lucram mais dessa forma? E as noites em claro nas UPAS, postos de saúde, nossos salários baixos, as humilhações de nossos patrões? Será que é mesmo uma democracia? Será que alguma coisa mudou ou vai mudar somente trocando os governadores e presidentes?

Nós do COMPA achamos que não. Como diz Emma Goldman, mulher anarquista que viveu há anos atrás: “Se votar realmente mudasse alguma coisa, certamente seria proibido!”. Até mesmo os ricos e poderosos concordam com isso. E é por isso que tanto a TV como os partidos eleitoreiros, com os quais esses ricos são ligados, tentam nos convencer de que a urna é melhor lugar para exercermos nosso poder, falando ainda que greves, manifestações, ocupações de moradia e de terra são coisas de baderneiros e que não levam a lugar nenhum. Na verdade tentam nos convencer mas não conseguem nos enganar. É por isso que ano passado milhões de pessoas foram às ruas em todo país e que hoje as ocupações de terras abandonadas em BH dão moradia para mais de 25 mil pessoas. Os políticos, os empresários e a mídia fazem toda essa campanha contra as manifestações, contra as greves, contra as ocupações urbanas do país inteiro, justamente porque sabem que a luta povo é a única capaz de realizar uma mudança de fato, com sua força e pelas ruas. É o medo dos ricos: eles não querem mudança nenhuma, e sabem que o povo fazendo política fora das urnas, consegue de fato exercer o poder que tem e conseguir os direitos que merece a partir dos próprios esforços.

Por isso chamamos o povo dessa cidade, a ser solidário às lutadoras e aos lutadores do povo e que saiba que é só com luta que o povo consegue ser ouvido de fato, e não por meio das eleições.

Chamamos, então, para todas e todos construírem A OUTRA CAMPANHA, uma Campanha surgida no México com os Zapatistas e que propõe, basicamente, o que dizemos aqui: a nossa força vem das ruas, do nosso Poder Popular, e não das urnas. Temos um programa de urgências a ser criado por nossa organização popular: saúde, educação, transporte, trabalho, moradia, terra, questão das mulheres, dos negros, da comunidade LGBTT… que só pode ser discutido, defendido e conquistado pela nossa união, pela nossa organização, pela nossa luta. O programa que de fato atenda as nossas demandas só surgirá de nossas próprias mãos, e só será conquistado por nós mesmos. Nessas eleições estaremos discutindo diretamente com você trabalhadora guerreira, morador de ocupação, atendente de callcenter, desempregado, aposentada, estudante que não aceita as injustiças, propondo para que nos organizemos nos locais de trabalho, estudo e moradia, participemos de manifestações, discutamos com nossos colegas e amigos sobre os problemas que enfrentamos, busquemos soluções por meio de nossa organização e sejamos solidários aos que buscam.

Lutar não é crime, democracia se faz nas ruas, ou é democracia direta ou não é!

CRIAR O NOSSO PROGRAMA DE LUTAS E URGÊNCIAS, DISTANTE DAS ELEIÇÕES!

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