sexta-feira, 5 de setembro de 2014

[FARJ] Rafael Braga: mais uma vítima do terrorismo de Estado brasileiro

Retirado de: http://anarquismorj.wordpress.com/2014/08/27/rafael-braga-mais-uma-vitima-do-terrorismo-de-estado-brasileiro/


Nos dias 25 e 26 de agosto uma mobilização foi marcada para pressionar o julgamento da apelação contra a condenação do único preso pelas manifestações ainda encarcerado no Brasil: Rafael Braga. Rafael foi preso durante as manifestações de junho de 2013 “portando” uma garrafa de pinho sol e outra de álcool, produtos de limpeza que foram transformados pela polícia, mesmo depois da perícia constatar que eram garrafas plásticas e de pouco potencial inflamável, num “possível molotov”. A vigília aconteceu em frente ao Tribunal de Justiça, reunindo militantes, artistas independentes e movimentos populares diversos. Apesar da mobilização de vários grupos e organizações, a justiça, escancarando cada vez mais seu verdadeiro rosto, manteve a condenação de Rafael e diminuiu apenas 4 meses de sua pena.

Nós, assim como muitos militantes revolucionários não temos nenhuma ilusão com a justiça burguesa. Sabemos que a justiça é racista e classista da ponta dos pés aos fios de cabelo e funciona segundo um sistema de dominação. Sabemos que sempre os negros e mais pobres que são julgados, condenados e presos, isso quando não são assassinados pela Polícia Militar (que é a instituição que aplica a pena de morte para pobres e negros no Brasil). Sabemos que a justiça só pode ser pressionada com a luta popular organizada, que ocupa as ruas e faz aqueles que estão no poder serem colocados contra a parede. Sabemos que as prisões, foram feitas, como diria o anarquista Piotr Kropotkin, para extinguir todas as qualidades que torna um ser próprio para a vida social e que o primeiro dever da revolução, “quando as relações do capital e do trabalho tenha se alterado radicalmente” será o de “acabar com esses monumentos de hipocrisia”.



Mas o fato é que a condenação de Rafael não foi a única (até o momento) à toa. Os trabalhadores e a juventude negra sempre foram os mais atingidos pelo genocídio promovido pelo Estado brasileiro. E a condenação desse jovem, desempregado, morador de rua e negro visa dar um recado para juventude e o povo. É a conta da fatura de junho de 2013, batendo a porta e sendo paga da maneira mais dura, pelo setor que mais é atingido pelo capital e pelo Estado.

O que se espera nesse momento é que o conjunto da esquerda não esqueça Rafael Braga e trabalhe ativamente pela sua libertação. Essa não é uma tarefa de uma única organização ou movimento social, mas sim, do conjunto dos lutadores. A vigília, que reuniu apenas algumas dezenas de pessoas ao invés de centenas, poderia ter sido muito mais efetiva se parte da esquerda, ao invés de apostar as fichas em suas campanhas eleitorais, estivesse reforçando a solidariedade de classe. Mas precisamos retratar a realidade de fato como ela é: raramente a esquerda eleitoral faz luta durante as eleições. Mesmo com o discurso de que “lutam nas urnas e nas ruas” ou de que estão construindo “o poder popular”, o que se vê na maior parte das vezes nesse período é a militância partidária jogar energia apenas na campanha de seus candidatos, esvaziando assim, a luta real. E é essa luta real, justamente essa, a de organização e articulação do povo, de ocupação das ruas, praças e avenidas, de mobilização e marchas que muda a realidade. A esquerda, sabemos, também tem seus corporativismos, seus privilégios, seus “vícios” e raramente quer debatê-los de maneira franca. Muitos sindicatos, que poderiam ter encampado e dado peso a essa luta, por exemplo, desapareceram. Isso acontece pois determinadas burocracias sindicais estão mais preocupadas com suas próprias demandas. As greves de solidariedade, comuns na memória do sindicalismo combativo e revolucionário, hoje são apenas uma pálida lembrança do passado.

Entretanto, a autocrítica deve ser mais ampla. O número de pessoas que se mobilizou por Rafael Braga, de fato foi muito menor do que em outros momentos da luta, o que levou grande decepção aos presentes no TJ dia 26 que esperavam grandes mobilizações. Todos nós devemos refletir sobre isso. Como diz o ditado: “estamos juntos, mas não totalmente misturados”. E os que tem menor visibilidade militante recebem, proporcionalmente, menor solidariedade de classe.

Que a solidariedade de classe ultrapasse as diferenças. Que possamos continuar pressionando pela libertação de Rafael Braga! Essa derrota também é nossa. Mas a caminhada também.

A justiça não é cega nem neutra! Ela é burguesa!
Libertem Rafael Braga!

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