terça-feira, 8 de novembro de 2011

Moção de Repúdio do MAL-BH às calúnias do PCB / KKE

No dia 23 de outubro de 2011, foi publicado no site do Partido Comunista Brasileiro (PCB) um artigo  de autoria do Partido Comunista Grego (Greek: Κομμουνιστικό Κόμμα Ελλάδαç- KKE) intitulado "Assalto contra o comício da PAME e o assassinato do sindicalista Dimitris Kotzaridis". O texto classificava os anarquistas gregos que entraram em confronto com membros do KKE como: 
“Grupos de provocadores e anarco-fascistas desencadearam um ataque com coquetéis molotov, gás lacrimogêneo, granadas de efeito moral e pedras com o intuito de dispersar o majestoso comício dos trabalhadores e do povo” 
 (fonte: www.pcb.ogr.br ¹). 
Para nós anarquistas, não é novidade sofrer agressões verbais caluniosas de membros de organizações stalinistas, levando em conta seus tradicionais ataques inconsequentes à esquerda revolucionária livre.

Nós do MAL-BH fazemos questão de deixar pública nossa moção de repúdio as difamações promovidas pelo KKE e pelo PCB.

UM POUCO DA HISTÓRIA

Para que possamos entender o problema que isso representa, devemos contextualizar a história. O Estado ditatorial bolchevique dizimou, já na década de 20, o exercito revolucionário popular ucraniano conhecido como “Makhnovtchina”, que vinha derrotando a exploração ao sul da URSS e coletivizando latifúndios conquistados através de uma luta independente das forças vermelhas.

Esse próprio Estado bolchevique, tão aclamado como o “Estado da revolução gloriosa dos operários”, massacrou diversos marinheiros na conhecida revolta de Kronstadt. Dentre suas reivindicações, destacavam-se a autonomia aos sovietes, liberdade de expressão e imprensa aos trabalhadores e o direito a reunião. O resultado foi mais uma mancha de sangue pintada na história das revoltas populares. 

Já na Espanha, na guerra civil em 1936, os sindicatos livres e milícias autônomas triunfavam vitórias ante o Estado, o franquismo, o clero e o capitalismo. A intervenção stalinista foi um dos pontos cruciais para a derrota do avanço revolucionário, burocratizando, militarizando e aparelhando as frentes de batalha. Anarquistas, a mando de Joseph Stálin, foram perseguidos, assassinados e torturados.

É evidente que existam tantos outros fatos históricos que exemplificam a postura ditatorial, arrogante, prepotente e direitista dos bolcheviques e stalinistas. Essas atitudes não se tratam apenas de referências históricas. Cotidianamente convivemos com aspirantes a generais que assolam a esquerda e as lutas de nossa classe. Desde proselitismo, aparelhismo de movimentos sociais e difamações baratas até tentativas de reprimir-nos em manifestações populares caracterizam os militantes bolcheviques stalinistas que conhecemos, neste caso, principalmente do PCR.

Compreendendo essa história, não nos espantam tais declarações do PCB, entretanto, o fato de não espantar não quer dizer que não nos revolta. São posturas como estas que devemos combater em todos os sentidos, para primeiro denunciar as difamações imorais de históricos inimigos dos trabalhadores, e segundo retroceder vosso avanço na esquerda. Não desejamos retroceder a luta popular, pelo contrário, desejamos avança-la, e é por isso que lutamos contra as ruínas que a estagnam nos seus pontos mais cruciais de organização. 

OS “ANARCO-FASCISTAS” NA GRÉCIA

Que é praxe os stalinistas deturparem nossas agitações, todos já sabemos. Porém, o mais absurdo, é tentarem deturpar o anarquismo grego, seus militantes e seus levantes. No século XXI, o movimento anarquista na Grécia é um dos mais notórios do mundo, tradicional por mobilizar milhares de estudantes e trabalhadores, e por lutar com veemência contra as pretensões do capital europeu, o FMI, as medidas de austeridade do governo grego, a repressão policial em bairros de população pobre etc.

As ações anarquistas também são famosas por sua violenta reação contra as forças aliadas ao regime, principalmente a polícia. Violentos por resistência e organizados por virtude, os anarquistas gregos escrevem uma das mais importantes histórias da esquerda revolucionária do mundo contemporâneo.

Existem também bairros ocupados por moradores anticapitalistas e antiautoritários. São diversas ocupações que funcionam como centros sociais-culturais, bibliotecas populares etc. 

Na tentativa de barrar o avanço do poder popular, houve alguns ataques mal sucedidos à ocupações por policiais e grupos neo-nazistas, que não somaram força suficiente para derrotar o poder do povo.

Cada dia que se passa, cada crise que o povo grego enfrenta e cada miliciano assassinado são estímulos à mobilização anarquista na Grécia. Em dezembro de 2008, por exemplo, a situação grega ficou alarmante. Em virtude do assassinato do jovem Alexis Grigoropoulos pela polícia, intensos protestos violentos de caráter insurrecional foram travados em diversas cidades gregas. Prédios públicos e universidades foram ocupados, bancos e grandes redes de lojas foram queimados e saqueados e bairros foram emancipados da polícia.

Podemos então perceber a origem classista e popular dos movimentos anarquistas da Grécia, e também percebemos que a afirmação do PCB de que "os encapuzados sentem ódio contra o movimento operário-popular” e que são "forças que servem ao sistema capitalista e ao poder burguês" não têm fundamento algum. São acusações caluniosas feitas por pessoas mal-intencionadas.

OS ANARQUISTAS NA CRISE ECONÔMICA DE 2011

Freqüentemente recebemos notícias diretas da Grécia acerca das agitações populares em resposta à crise econômica e politica do país. As ações anarquistas não estão fugindo de sua realidade histórica: protestos violentos em resistência à violência policial; grandes manifestações; papel fundamental nas greves gerais; ocupação de prédios e espaços públicos; realização de assembléias populares nestes espaços e inclusive expropriações de grandes supermercados para distribuição dos produtos em praças. Segue uma carta distribuída durante um saque nas proximidades de Laiki:

"Não vamos nos enganar. Por trás da retórica fácil de digerir sobre os fraudadores e os garotos de ouro, os alemães malvados e os – generalizados e abstratos – mercados impiedosos, se esconde a nossa eterna exploração e saque de bens produzidos pelo jugo dos patrões. E é muito claro que, enquanto eles dominarem nossas vidas, continuarão a nos desvalorizar e aniquilar para poder manter seus lucros. E os golpes consecutivos que temos recebido, não importa o quanto seja disparatada a forma com que se apresentem, servem aos interesses unificados de classe deles. Ao mesmo tempo, espalham medo para preservar sua autoridade: aumento do policiamento, perseguição de estrangeiros, suspensão do asilo [universitário], fomento ao racismo e ao patriotismo. 
Chega de inatividade. Vamos tomar nossas vidas em nossas próprias mãos. 
A perspectiva de classe dos oprimidos não é de luta pela sobrevivência, nem se espremer para uma posição de rendição e empobrecimento. Essa perspectiva será composta aqui e agora, nos pequenos e grandes momentos de negação e em nossas lutas. Nos confrontos diários com patrões e nas greves; nas manifestações, assembleias populares e estruturas de apoio-mútuo; em ocupações de prédios públicos, escolas e universidades; na ira contra os policiais e na solidariedade contra a repressão; nos atos agressivos contra alvos do Estado capitalista; nos movimentos de recusa de pagamento, desde as contas de eletricidade até os pedágios de estrada; no saque coletivo de bens em supermercados e sua redistribuição pública.

Vamos reunir nossa força coletiva.

Vamos traçar o plano da emancipação social e individual.

Guerra à guerra dos patrões.

Todos às Greves Gerais!"

 Essas e outras ações constroem a contribuição anarquista crucial ao movimento popular grego. Mas não é essa a leitura dos stalinistas.

O KKE: “GUARDA CIVIL DO REGIME” E OS CONFRONTOS

De outro lado, o KKE, que é aliado ao PCB, vem sendo um instrumento de manutenção do regime. No dia 20 de outubro de 2011, anarquistas, socialistas e outros manifestantes denunciaram a ação de militantes e defensores do KKE, que bloquearam a passagem da grande manifestação que ia de encontro ao parlamento. Houve confronto e resistência dos manifestantes diante da ação do KKE.

Para sermos mais claros, segue um trecho explicando o acontecimento do dia 20:
Membros do KKE fazendo a linha de frente
da polícia, contra os manifestantes populares
"Enquanto dentro do Parlamento o governo estava aprovando um decretaço que acaba com os acordos coletivos e com as nossas vidas, do lado de fora os membros do Partido “Comunista” substituía a Polícia, tentando reprimir uma manifestação combativa e massiva do povo de Atenas. Eles estavam bem preparados e equipados, com paus e bastões, usando capacetes, a fim de levar a cabo um plano bem definido. Em coordenação com a outra Polícia, formaram uma corrente humana em frente ao Parlamento, repelindo violentamente os blocos de manifestantes que se aproximavam da área. Até agora, dito partido tinha apenas se limitado a um desfile apressado por uma parte do centro da cidade antes de sair também às pressas. Hoje, esse plano mudou. Tanto em Atenas, como em outras cidades gregas desempenharam o papel da guarda pretoriana do Regime."


Os militantes do KKE formaram uma linha reta,
onde defenderam a polícia e o parlamento.
Manifestantes ligados ao KKE, com bandeiras vermelhas, formam uma linha de defesa da polícia e do parlamento aos manifestantes.

Depois da ação unificada entre o KKE e a polícia, a manifestação conseguiu ser dispersa por algumas horas, se espalhando por outros bairros em Atenas.

Sobre a morte do homem que o KKE/PCB atribuiu culpa aos anarquistas, a mesma notícia relata o seguinte:

"Mais de uma hora após a retirada-fuga dos brucutus, um homem de 53 anos morreu, devido a problemas respiratórios e um ataque cardíaco. De acordo com as evidências até o momento, essa pessoa inalou grande quantidade de gás lacrimogêneo e outros venenos disparados pela Polícia. Estamos à espera da autópsia forense para detectar com mais precisão as causas de sua morte."
Em virtude dessa aliança e retrocesso das lutas populares, uma serie de ataques a sedes do KKE por anarquistas e demais indignados foram realizados durante a semana, como a repentina ação do dia 21:
A ação direta foi realizada enquanto acontecia no interior da sede uma assembléia do/as stalinistas. O/as ativistas arrebentaram as janelas da sede partidária e jogaram alguns fogos de artifício no local. Em seu comunicado, ele/as explicaram que o ataque foi uma resposta aos membros da KNE (a juventude do KKE), que decidiram substituir a polícia durante o segundo dia de greve geral na Grécia.”

 Por todos os fatos publicados nesta nota (o que nem o KKE nem o PCB fizeram em nenhum momento de suas calúnias), o MAL-BH declara solidariedade a todos os gregos que lutam todos os dias por um mundo novo, livre do capital, do Estado e da propriedade, e que resistem às forças reacionárias burguesas, estatais e stalinistas. Declaramos também nossa posição de repúdio e indignação às atitudes e difamações do PCB / KKE e KNE, irresponsáveis por se posicionarem como esquerda e se portarem como exterma-direita, o que é inadmissível.

Que avance as lutas anticapitalistas e antiautoritárias na Grécia e no mundo! Que o poder popular grego derrote o governo e a política neoliberal e fascista do primeiro ministro grego Geórgios Papandréu e de quaisquer que sejam seus sucessores! Que o stalinismo sucumba junto a qualquer outra ditadura no mundo!

 Notas:

 ¹ Link:

² Link:

³ Link:

3 comentários:

  1. "É evidente que existam tantos outros fatos históricos que exemplificam a postura ditatorial, arrogante, prepotente e DIREITISTA dos bolcheviques e stalinistas"
    cara, sugiro que você substitua a palavra direitista por Autoritarista, ou relacionados, pois chamar o PCB de direitista (diferente do PCdoB) é dizer a mesma coisa que eles disseram sobre "anarco-facistas". fica a observação

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  2. "Punk", não é não. De um lado são anarquistas lutando contra o Estado direitista e contra defensores deste estado, ou seja, também direitistas. De outro lado, são esses defensores deste Estado direitista difamando os anarquistas de esquerda.

    Um lado é difamação, o outro é denuncia. Bem simples.

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  3. Não, apesar destes partidos muito provavelmente defenderem atitudes esquerdistas (como maior salário mínimo, moradia e etc) usam recursos opressivos para legitimar suas ações, característica dos stalinistas, ao que me parece na reportagem, o KKE estava negociando medidas esquerdistas e direitistas, e os anarquistas aparentemente foram protestar contra as medidas direitistas que o KKE estava fazendo, dai vem a atitude autoritária do KNE junto a policia.

    entendeu o que eu quero dizer? ao meu ver o KKE iria promover atitudes de direita e de esquerda, mas estava usando recusos autoritários

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